DIVERSOS | 20/06/2016 às 00h00

MS terá primeiro frigorífico para abate de jacarés

O primeiro frigorífico de abate de jacarés do Mato Grosso do Sul foi lançado no último dia 16 de junho, em evento ocorrido no coração do Pantanal, na cidade de Corumbá.

A cerimônia ocorreu no Caimasul, na BR-262, e foi acompanhada por uma equipe da Embrapa Pantanal. O chefe de Transferência de Tecnologias da Unidade, José Aníbal Comastri Filho, o pesquisador da área de alimentos, Jorge Antonio Ferreira de Lara, e o supervisor do Núcleo de Comunicação Organizacional, Thiago Coppola, estiveram no local prestigiando o empreendimento e reforçando a possibilidade de parcerias em pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Raul Amaral Campos Filho, um dos responsáveis pelo Caimasul, anunciou em discurso que em breve o grupo estará lançando também a Fundação Caimasul, que vai destinar R$ 1 por animal abatido à investigação científica. Citou como prováveis parceiros em pesquisas o CSG (Grupo de especialistas em crocodilianos da IUCN – International Union for Conservation of Nature), a Embrapa e universidades. A expectativa é que o empreendimento tenha um faturamento anual na faixa de R$ 40 milhões.

Os abates no frigorífico Caimasul devem começar em janeiro ou fevereiro de 2017. Até o momento, segundo Raul Amaral Campos, outro investidor, já foram aplicados nas instalações cerca de R$ 15 milhões. Além do frigorífico, o grupo atua na recria e engorda de jacarés-do-Pantanal. Na solenidade de ontem foram apresentados exemplares da safra 2014, 2015 e filhotes nascidos em 2016.

Para montar o empreendimento, o grupo coletou na natureza ovos de jacarés, gerando renda a ribeiros e fazendeiros. "Nós pagamos pela coleta, que é feita em propriedades rurais, em áreas autorizadas. Levamos consciência ambiental a esses parceiros", conta o zootecnista Willer Girardi do Caimasul. A intenção é manter as baias com 80% de animais nascidos em cativeiro e 20% coletados na natureza. Willer disse que esse manejo não provoca perdas no plantel do Pantanal.

Raul Campos Filho lembrou, também em seu discurso, que os maiores prejudicados com o empreendimento são os caçadores ilegais de jacarés. "Apesar do frigorífico ser considerado nosso módulo mais sensível, porque os animais serão abatidos aqui – o que gera certo desconforto – sabemos que daqui sairão produtos legais e de qualidade", afirmou.

A intenção é abater os jacarés com oito quilos, o que pode ser obtido a partir de 18 meses. Nas baias, a temperatura, lotação e alimentação são controladas. O veterinário Eduardo Borges disse que eles comem vísceras bovinas, de peixes e farinha. "É uma alimentação bem rica", explicou. Sobre a concentração de animais nas baias, ele explicou que foram feitas filmagens aéreas na natureza para replicar a mesma situação no cativeiro.

Enquanto filhotes, cada baia recebe cerca de 2 mil animais, segundo Willer. Com o tempo e conforme se desenvolvem, no final do ciclo cada baia concentra cerca de 200 jacarés. Os responsáveis técnicos disseram que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) estão acompanhando as ações do grupo.

No momento existem 76 baias ocupadas. O projeto comportará até 240. A expectativa é chegar a 80 mil jacarés no sistema. Além dos animais que serão abatidos, alguns serão selecionados como matrizes para reprodução. "Vamos começar o trabalho de melhoramento genético. Já estamos selecionando os mais precoces", contou o zootecnista.

A carne do jacaré mais precoce é mais macia, assim como acontece na bovinocultura. Willer explicou que existem 11 cortes aproveitados pelo mercado de jacarés, incluindo o filé, coração e outros. O Caimasul pretende aproveitar todo o animal: o couro deve ser exportado – há uma expectativa de que os retalhos sejam aproveitados para artesanato na própria região; a cabeça deve ser aproveitada como adorno a partir da taxidermia; as vísceras serão reaproveitadas na própria alimentação dos jacarés.

O grupo também adotou o reuso de toda a água no empreendimento. Ela é tratada e reaproveitada. Atualmente o Caimasul gera 30 empregos diretos. Quando estiver em plena operação, a expectativa é empregar diretamente 120 funcionários, além de gerar mais 200 empregos indiretos.

Embrapa
O pesquisador Jorge Lara disse que os equipamentos disponíveis na Embrapa Pantanal e o conhecimento adquirido ao longo dos anos pelos pesquisadores poderão ser úteis ao empreendimento e à sociedade.

Jorge lembra que os primeiros contatos com o grupo aconteceram no início de 2015, por meio dos pesquisadores Ubiratan Piovezan, Comastri Filho e do analista Thiago Coppola. Antes das primeiras visitas ao Caimasul, seus representantes estiveram na Embrapa Pantanal conversando com a chefe-geral Emiko Resende.

A Unidade poderá atuar apoiando a industrialização da carne de jacaré. "O foco será no padrão de qualidade da matéria-prima do abate, na conservação e na qualidade da carne. Também podemos ajudar no desenvolvimento de produtos derivados, na caracterização e vida de prateleira", afirmou. O pesquisador destaca ser importante estar junto ao empreendimento desde o início das atividades.

Comastri Filho disse que o Pantanal comporta a exploração sustentável de jacarés. Segundo ele, toda a pesquisa desenvolvida sobre os animais nas últimas décadas poderá ser aproveitada pelos empresários. Ele também tem expectativas de que as pesquisas em processamento de alimentos possa ser utilizada de forma direta pelo frigorífico.

A proximidade geográfica da Embrapa Pantanal e do Caimasul foi um dos pontos altos colocados pelos dois pesquisadores, o que pode facilitar – e muito – o desenvolvimento de novos estudos sobre a produção de jacarés em cativeiro.

Fonte: Ana Maio/Embrapa Pantanal

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